Brincar é coisa de criança, e de adulto também! - page 16

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Angela Borba
A apropriação da brincadeira como forma de atividade hu-
mana transforma a percepção imediata da criança e de suas
ações. Isso é possível pela mediação dos outros e dos signos,
especialmente, pela apropriação da linguagem oral. Através
das interações sociais que se estabelecem no seio de uma dada
cultura, um objeto como uma bola é muito mais do que uma
forma redonda e colorida. Tem um significado que é dado pela
cultura e que remete a um uso e a uma forma específica de inte-
ração com os outros, que se dá através da alternância de ações
de lançar e receber (com as mãos ou os pés, rolando, jogando
para cima, quicando etc.), prática lúdica que toma diferentes
formas, desde os esquemas mais simples de ação aos mais com-
plexos, como o jogo de futebol, por exemplo.
Vigotski dá destaque especial à brincadeira de faz de con-
ta, na qual a criança cria uma situação imaginária e em torno
da qual desenvolve um conjunto de ações, compreendendo-a
como uma “atividade-guia do desenvolvimento psicológico”.
Segundo Prestes (2011), Vigotski usa essa expressão para se
referir às atividades que, em certa idade da vida da criança,
guiam os processos geradores de mudanças no desenvolvimen-
to, implicando transformações significativas no seu curso. Que
transformações são essas?
Clara se dirigiu para as pedrinhas [na entrada da Cre-
che, grande parte do terreno é revestida por pequenas
pedrinhas] e começou a colocar pedras no pires. Isso
chamou a atenção dos outros amigos do G1
5
. Alguns co-
meçaram a ajudá-la e outros ficaram esperando para co-
mer “de mentirinha”, como eles falam. Fizeram “arroz”,
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Na Creche UFF, G1 (Grupo 1) corresponde ao agrupamento de crianças entre 1 ano e
meio e 3 anos.
1...,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15 17,18,19,20,21,22,23,24,25,26,...32
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