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Angela Borba
A dimensão imaginária funciona como um contexto comum,
que reúne as crianças em torno de uma brincadeira. A inclusão
de elementos simbólicos partilhados parece reforçar o interesse
das crianças pelas brincadeiras e os laços que as unem. Mas é
preciso destacar que a construção de uma brincadeira coletiva
exige grande investimento das crianças, pois envolve um com-
plexo processo de interação social. O imaginário de cada criança
precisa dialogar com a necessidade de construir um imaginário
comum, pois é este que serve de referência aos participantes para
a construção de ações coletivas, coordenadas e partilhadas. A
brincadeira coletiva exige, dessa forma, uma negociação dos sen-
tidos individuais atribuídos, em favor de sentidos comuns. Isso
envolve um processo interpretativo das ações dos outros e um
complexo processo de negociação. A construção conjunta de
uma brincadeira permite que a criança ultrapasse a perspectiva
individual e particular, para partilhar significados com seus pares.
Vejamos a situação a seguir.
Isabel e Carla brincam com utensílios de cozinha e
jogos de chá na pia da cozinha da “Casinha”, em frente
à janela. Bárbara e Liana, que brincam do lado de fora
de ser “ladronas”, param em frente à janela e passam a
observar as duas meninas.
Bárbara: Me dá um suco!
Isabel: Não.
Bárbara: Me dá um chá então!
Isabel: Vão embora!
Bárbara: Me dá um café! Me dá o que você tiver!
Isabel finge preparar uma bebida em uma xícara e
oferece à Bárbara dizendo que é chocolate.
Bárbara: Eu não quero chocolate! Quero chá!
Isabel: Toma o chocolate!
Bárbara: Eu quero chá!
Liana: Eu também quero chá!