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Brincar é coisa de criança, e de adulto também! O valor da brincadeira na vida e nos espaços de Educação Infantil
se a criança é um ser que brinca, por que transformá-la em um ser
escolar, no sentido mais estrito e reduzido da expressão?
Relatos de professores e visitas a diferentes espaços de Educa-
ção Infantil nos fazem constatar que é comum a brincadeira ser
posta à margem das interações dos adultos com as crianças. Elas
são condenadas, muitas vezes, a permanecer grande parte do tem-
po sentadas, a fazer “trabalhinhos” ou “atividades” que, suposta-
mente, as preparariam para a vida escolar futura, como: colorir,
copiar, associar figuras, cobrir traçados de formas e letras etc.
Nesse contexto, perguntamos: onde fica o exercício de ser
criança? Onde está a vida que pulsa nos olhos curiosos da criança,
com suas perguntas e ideias, ávidas a participar do “espetáculo do
mundo”, como diz anteriormente o escritor Otto Lara Resende?
Que conteúdos são esses com que estabelecemos nossas relações
com as crianças? Fazem sentido para elas e para nós? O que vemos
quando olhamos para as crianças? Apenas alunos que devemos for-
mar? Formar? Colocar em uma fôrma? Quem são nossas crianças?
Conseguimos enxergá-las? Que experiências elas já acumularam no
seu pouco tempo de vida? Que experiências vamos construir com
elas? E nós, professores, nos vemos como sujeitos na relação com a
criança ou nos reduzimos a meros transmissores de conhecimento?
Os discursos e práticas sobre a Educação Infantil que enfa-
tizam sua função preparatória e escolarizadora, ao impedir que
a brincadeira se faça presente como dimensão humana, fazem
com que a criança seja obrigada a abandonar sua vida lá fora,
transformar-se em aluno, enquadrar-se em tempos e espaços que
definem os limites do que ela deve ou não fazer para se tornar, no
futuro, um sujeito competente. Onde mais “se leva o coelho à ce-
noura ligando pontos” do que nas escolas de Educação Infantil?
Que mundo é esse que as escolas constroem?