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Brincar é coisa de criança, e de adulto também! O valor da brincadeira na vida e nos espaços de Educação Infantil
Bárbara resolve aceitar o chocolate e o oferece a Liana,
que finge beber.
Em seguida, Bárbara e Liana saem correndo e, a cada
vez que passam em frente à cozinha, pedem algo a Isa-
bel, que prepara e serve o alimento solicitado (Caderno
de Campo, UMEI Rosalina de Araújo Costa
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, 2004).
Isabel e Carla brincam de casinha, tendo o contexto do-
méstico como plano imaginário, mas Bárbara e Liana atribuem
outro sentido às suas ações e tentam transformar o espaço em
estabelecimento comercial. Iniciam então uma negociação a
partir da expressão e significados de cada uma para chegar a
uma significação comum e se engajar em ações ficcionais parti-
lhadas e coordenadas.
Geralmente, quando crianças pequenas se encontram em espa-
ços comuns, o desejo de brincar juntas parece ser a principal razão
e, ao mesmo tempo, o meio mais efetivo de criar vínculos sociais e
afetivos. A brincadeira conjunta instaura uma comunhão entre as
crianças que contribui para a criação de laços de amizade e de um
sentimento de pertencimento a um grupo específico, formado por
crianças que vivem em tempos e espaços partilhados e que partici-
pam ativa e coletivamente da experiência da infância.
Brincando juntas e participando de práticas sociais e culturais
comuns, as crianças descobrem afinidades e diferenças, experi-
mentam acordos e desacordos, relações de inclusão e exclusão.
A partir das referências da cultura, “re-criam” as brincadeiras e
criam os próprios códigos, artefatos e conhecimentos. Apren-
dem a regular seu comportamento e a gerenciar os conflitos.
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A UMEI Rosalina de Araújo Costa é uma unidade municipal de Educação Infantil de
Niterói, onde desenvolvi minha pesquisa de campo na ocasião da elaboração de minha
tese de doutorado (Borba, 2005).