Brincar é coisa de criança, e de adulto também! - page 2

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Angela Borba
Para pensar sobre infância e brincadeira, que tal ir ao encontro
das crianças e de nossas próprias infâncias? De um modo de ser que
nos constitui? Escolhemos um caminho para esse encontro: trazer
para o centro da nossa conversa as vozes das crianças, passeando
entre versos de Manoel de Barros. Vamos tentar ser, assim como
ele, “caçadores de achadouros de infância”, abrindo nosso baú de
memórias e encontrando, nas crianças de hoje, os vestígios das me-
ninas e dos meninos que fomos. Talvez assim, trazendo nossas sen-
sações e lembranças desse tempo, possamos partilhar com as crian-
ças a visão oblíqua das coisas, a liberdade de inventar e o prazer de
brincar, reencontrando, de certo modo, a nossa humanidade.
O mundo precisa das crianças para recordar a huma-
nidade. (Barros, 2010)
1
Nos cursos e eventos de formação de professores, quando lhes
perguntamos qual a ideia que têm de criança, é comum referirem-
-se à brincadeira como a característica que marca a infância. De
modo contraditório a essa visão, porém, temos observado, no con-
texto das instituições de Educação Infantil, uma redução, ou mes-
mo uma tentativa de supressão, da brincadeira como uma dimen-
são importante do currículo e do desenvolvimento da criança.
Nesses casos, a brincadeira é valorizada apenas quando adotada
como ferramenta pedagógica para a transmissão de algum conte-
údo ou para o treinamento de habilidades específicas. Isso não se-
ria um paradoxo? Por que a “atividade” ou os “trabalhinhos” têm
mais valor do que a brincadeira? Brincadeira só tem valor quando
é uma atividade controlada para que promova aprendizagens? Ora,
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Fala de Manoel de Barros no filme Só dez por cento é mentira, direção de Pedro Cezar,
2010.
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