Literatura infantil: reflexões e provocações - page 12

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Simone Bibian
Como a leitura pode abrir portas, janelas e caminhos
As pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores
do que as outras pedras do mundo.
Justo pelo motivo da intimidade.
Manoel de Barros
Pego emprestado um verbo criado pela minha sobrinha para
dizer que a literatura nunca mente, ela está sempre
verdando
.
Por mais fantástica que seja a história, ela fala profundamente,
porque trata da realidade humana, seja para confirmá-la, seja
para negá-la. As histórias conseguem ultrapassar nossas defesas
e falam direto ao coração.
Algumas vezes, as crianças me perguntam se a história que
contei é verdadeira, se aconteceu realmente. Costumo responder
com convicção: “No era uma vez, aconteceu sim”. Dessa forma,
mantenho a magia da história ao mesmo tempo em que lhes ga-
ranto o distanciamento necessário para pensar.
O escritor Bartolomeu Campos Queirós diz que o texto literário­
conversa com o leitor, com o que ele é, com seus fantasmas, suas
coisas. É quando se lê e pensa: “Mas era isto que eu queria dizer!”.
O texto dá voz ao leitor. Mas tal “conversa” depende de quem é
esse leitor, qual é seu ponto de vista, o que viveu, o que tem dentro
de si. Ao ler
Cinderela
, de novo como exemplo, como você ima-
gina o vestido? Maravilhoso, sem dúvida. Mas é o
seu maravilhoso
.
Eu me lembro de uma ilustração linda, de página inteira, de
um livro dado por minha avó como presente de Natal. Na época,
eu já mostrava minha paixão pela leitura, e dar livros de presente
não era tão comum. Lembro também de ter tentado fazer o vestido
da ilustração para a minha boneca e de ter alimentado um secreto
desejo de possuir um igual, quando crescesse. Uma professora
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