Literatura infantil: reflexões e provocações - page 6

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Simone Bibian
à própria história da humanidade. O que tem em Chapeuzinho
Vermelho, por exemplo, que faz sentido para pessoas de épocas,
sociedades e idades diferentes? O que soa familiar nela, indepen-
dente da cultura? Medo, ousadia, raiva, amor, abandono e todas as
questões com as quais os seres humanos se debatem desde sempre.
Segundo Regina Machado (2004), o conto de tradição oral “é a
história dessa pessoa, que se conta para ela por meio do relato
universal”. Tanto o adulto quanto a criança que ouve um conto
sendo narrado participa de uma experiência única, que se cons-
trói fora do tempo cotidiano (no tempo mágico do “Era uma
vez...”), ao mesmo tempo em que o insere na universalidade.
Os contos de tradição oral são um legado da humanidade, carre-
gados de conhecimento acumulado há séculos.
Por meio deles, também podemos conhecer e respeitar outras
culturas, já que:
[...] ao trazermos para a sala de aula histórias de outros
povos, não estaremos apenas contribuindo para que a
diversidade cultural se torne um fato, mas também apre-
sentando à criança a oportunidade de conhecer aquele
povo através do olhar poético que ele lança para a sua
realidade. Perceber como ele se articula para produzir
significados para a sua existência, qual o valor que ele
atribui às manifestações sociais, como ele se percebe
e percebe os outros indivíduos na sua comunidade
(Busatto, 2003, p. 38).
Os contos de fadas, os mais contados para os pequenos, já
foram acusados de inadequados para crianças por causa de sua
violência (envenenamentos, mortes, mutilações) e pelo fato de
que alguns obstáculos não são enfrentados pelo herói e acabam
sendo resolvidos através da magia. No entanto, hoje já se sabe
1,2,3,4,5 7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,...22
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