Literatura infantil: reflexões e provocações - page 7

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Literatura infantil: reflexões e provocações
que o conto de fadas toca de modo muito profundo as crianças.
Fala do medo da separação e da morte, das ambições, traições,
amor e ódio. O conto é um convite para a criança encarar as
dificuldades da vida, levando-a à autonomia e ao crescimento
(por isso o “tornar-se rei”, ou “casar-se”, como final). Ele não
nega que as adversidades existem, e podem ser muitas e terrí-
veis, mas propõe um final feliz para quem as enfrenta. Mesmo
o mais frágil dos irmãos, como geralmente são os heróis desses
contos, pode se sair bem pela coragem ou esperteza. Experimen-
tar momentos de isolamento, incompreensão, dúvida e medo
pode acontecer. Mas receber um auxílio inesperado, orientação
e apoio, geralmente por ser bondoso e honesto, também pode.
Mesmo que receba ajuda de mágica, o protagonista tem que
merecê-la e, ainda assim, é apenas uma ajuda: a fada-madrinha
de Cinderela deu o sapato, o vestido e a carruagem, mas coube à
garota arriscar-se a ir ao baile escondida da madrasta, encantar
o príncipe e enfrentar a todos ao se revelar a dona do sapatinho
de cristal perdido.
Além das narrativas orais, os livros devem fazer parte do
cotidiano das crianças, mesmo daquelas que ainda não dominam
o código escrito. Elas já podem ser introduzidas em práticas lei-
toras: ouvir a leitura do mediador, num ambiente acolhedor e
sem pressa, embalada pela voz e pelo silêncio, ter livre acesso à
biblioteca da sala, manusear, cheirar, apreciar as ilustrações, ver
outras pessoas lendo, pegar emprestado, conversar sobre a histó-
ria, recomendá-la aos amigos, visitar outras bibliotecas, sebos, li-
vrarias e feiras de livro, aprender como funcionam, ver catálogos
e sites das editoras, montar uma biblioteca pessoal. São ativida-
des que farão com que as crianças transitem mais à vontade nesse
universo, antes mesmo da alfabetização.
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