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Literatura infantil: reflexões e provocações
Monteiro Lobato
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, que, em 1920, lançou
A menina do narizi-
nho arrebitado
, revolucionou a literatura infantil brasileira. Fun-
dindo o real com o maravilhoso e introduzindo o folclore brasilei-
ro, criou um universo imaginário onde os personagens participam
ativamente da realidade, criticando-a e transformando-a. Lobato
concebe a criança como ser pensante. Sua intensa produção li-
terária até sua última publicação,
Os doze trabalhos de Hércules
,
em 1944, repercutem até hoje. O Dia Nacional do Livro Infantil
é comemorado em 18 de abril, data de seu nascimento.
Depois de um período de pouca produção cultural pós-loba
tiana, na década de 1960 a sociedade brasileira se achava dividida
entre a influência dos meios de cultura de massa americanos,
com as obras de Walt Disney, e de uma manifestação nacional
autêntica, surgindo assim
A turma do Pererê
, de Ziraldo.
Mais tarde, nos anos 70, a revista
Recreio
lança escritores
como Ana Maria Machado e Ruth Rocha, capazes de mostrar,
em pleno regime ditatorial, que a literatura infantil poderia ser
questionadora. Provocando o riso e o estranhamento, fazem pen-
sar, como em
O reizinho mandão
, de Ruth Rocha, e
História meio
ao contrário
, de Ana Maria Machado. Surgem fadas, bruxas e ou-
tros personagens que, contrariando o que se espera deles, seguem
um caminho inovador:
A fada que tinha ideias
, de Fernanda Lopes
de Almeida (1971), é um exemplo.
A partir daí, a literatura infantil foi se multiplicando em ten-
dências e estilos. O folclore é valorizado e o poder do narrador
é diminuído, dando voz aos personagens ou mostrando diversos
pontos de vista, como em
Que história
é essa? (1995) e
Domingão
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A referência a Monteiro Lobato encontra validade no teor literário de sua obra e na sua im-
portância na história da literatura brasileira. Não faremos aqui referências a interpretações
contemporâneas acerca de concepções possivelmente racistas em algumas de suas obras.