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Literatura infantil: reflexões e provocações
Ela foge, apavorada, cria mil situações para se livrar dele, mas
não consegue. Nas últimas páginas, o dragão consegue o que
queria: não era pegar a menina, e sim sua bolsinha, que contém um
batom. No final, ficamos sabendo que o dragão é fêmea e trata-se
da Ritinha do título, a menina, na verdade, chama-se Catarina.
A autora nos prega uma peça através das ilustrações.
Há hoje uma produção intensa de literatura infantil, brasileira
e estrangeira, de alta qualidade e inovadora. Mas há também que
se considerar que nem toda a literatura infantil é sempre de boa
qualidade, como veremos adiante.
E quem ainda não sabe ler?
Inventei um menino levado da breca para me ser.
Ele tinha um gosto elevado para chão.
De seu olhar vazava uma nobreza de árvore.
Tinha desapetite para obedecer a arrumação
das coisas.
[…]
Manoel de Barros
A literatura, numa visão mais ampla, está presente em nossa
vida desde o nascimento. Brincadeiras do tipo “serra-serra-serrador”,
“cadê o toicinho que estava aqui?”, acalantos, rimas, ritmos, o toque
do corpo acompanhando a brincadeira fazem com que o bebê
relacione linguagem e afeto. Mais tarde, aparecem os trava-línguas,
as adivinhas e as canções de roda. Segundo Maria da Glória
Bordini (1991), esse é o verdadeiro gatilho da sensibilidade
posterior da criança para a poesia. Eu diria que tudo isso desperta
a criança para as palavras.
Na Educação Infantil, a “hora do conto” está muito presente.
O ato de sentar com uma criança e contar uma história remonta