Literatura infantil: reflexões e provocações - page 10

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Simone Bibian
Voltaremos à discussão sobre “para que serve” a literatura no
próximo item.
• Há casos em que os livros não são propriamente escolhi-
dos, são frutos de doações e oferecidos às crianças sem
seleção prévia. Essa atitude concebe a creche como um es-
paço em que as “crianças são
cuidadas
enquanto seus pais
trabalham, e que, portanto, é uma boa ideia oferecer a
elas a
distração
de
livrinhos
coloridos de
historinhas
, e qual-
quer um que tenha bastante ilustração serve, já que elas
não sabem ler mesmo e, inevitavelmente, irão rasgá-los”.
Quem pensa assim também costuma contar historinhas
para as crianças ficarem quietas, enquanto esperam que os
pais as busquem. A criança acaba indo embora sem saber
o final da história. O trabalho com literatura infantil é
um projeto engajado na proposta político-pedagógica da
instituição. Pensar no trabalho com literatura infantil é
pensar na sociedade que queremos.
As histórias que conhecemos, de forma oral ou escrita, fazem
parte da nossa biblioteca interna e servem de referência para a
vida toda. Ao formar a biblioteca da Educação Infantil, é preciso
estar atento a isso, pois precisamos ter referências básicas. Ana
Maria Machado conta que, apaixonada por
Reinações de Narizi-
nho
desde os 5 anos, como mãe dedicada tratou de ler Monteiro
Lobato para os filhos desde que eles eram pequenos, e eles adora-
ram. Mas, ao tentar fazer o mesmo com seus netos, percebeu que
havia uma dificuldade de entendimento, não com a linguagem,
já que isso era fácil de resolver explicando, mas pela falta de refe-
rências importantes que as crianças de hoje não têm mais. “En-
tão me dei conta – diz ela – da enormidade do risco que corremos
– em pouco tempo poderemos ter o pesadelo de gerações que
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