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Simone Bibian
Após a leitura, a apreciação crítica pode ir muito além do
“gostei” ou “não gostei”. Pensar em como o autor contou a histó-
ria, se foi de forma interessante, se concorda ou não, falar sobre
as atitudes dos personagens, o que os fez agir de determinada ma-
neira, qual a consequência e se poderia haver outras formas de
agir naquele momento e/ou outras consequências possíveis. Falar
sobre lembranças e questões que a história despertou. Lembro de
uma vez ter assistido a uma interessante discussão entre as crianças,
que se perguntavam se lobo mau existe mesmo. Após um intenso
debate, um menino encerrou a questão dizendo: “lobo existe, mas
este, da história, não existe”.
Pensar em diferentes livros que tratem do mesmo assunto,
quais as diferenças e semelhanças da forma como o assunto foi
tratado, voltar a trechos engraçados ou assustadores e pensar
como o autor conseguiu produzir emoção (deixou um segredo ser
revelado só no fim, nos fez pensar que era uma coisa e era outra,
repetiu ações ou palavras, dando ritmo à história etc).
A ilustração pode ser discutida e ir além do “feia” ou “bo-
nita”. As crianças estão muito habituadas a ver desenhos
animados, propagandas e outros apelos visuais com formas
estereotipadas. Atentar para a técnica utilizada, as soluções
encontradas pelo ilustrador e os ângulos inusitados podem
sensibilizar a leitura das imagens de forma mais crítica. Podemos
perceber também se há outros personagens que não aparecem
no texto, se ocorrem histórias paralelas, de que modo a ilus-
tração se articula com o texto. Veja, por exemplo, em
O menino
maluquinho
, de Ziraldo (1980), como a ilustração faz com que
nosso olhar passeie pelas páginas à procura do menino ativo,
que não para um minuto.