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Literatura infantil: reflexões e provocações
Gianni Rodari, um dos maiores autores infantis italianos, diz
que não se ensina literatura para que todos os cidadãos sejam es-
critores, mas para que nenhum seja escravo. E o que fazemos para
que se formem leitores? O livro é valorizado, considerado compa-
nhia, diversão, objeto a ser compartilhado, fonte de emoção na
família e na escola? E na alfabetização, e depois dela, o livro vira
objeto de cobrança, vem acompanhado de questionários intermi-
náveis? Na Educação Infantil, não tem importância se a criança
entende todas as palavras do texto, porque, mesmo sem entender
tudo, é possível compreender a história, o que interessa é a frui-
ção, a emoção, a expectativa, a admiração pelos personagens…
E ela tem a liberdade de perguntar, pedir para repetir, pode não
entender, não gostar. Depois, nas séries mais avançadas, o que
passa a interessar é se “leu mesmo”, que mensagem o autor quis
transmitir, quantos personagens etc. Morre aí toda a possibili-
dade da busca de um sentido para o que se leu, um sentido para
si e não para a escola ou para a família. Precisamos pensar aonde
queremos chegar e o que estamos fazendo na Educação. Afinal,
[...] liberdade, espontaneidade, afetividade e fantasia são
elementos que fundam a infância. Tais substâncias são
também pertinentes à construção literária. Daí, a litera-
tura ser próxima da criança. Possibilitar aos mais jovens
acesso ao texto literário é garantir a presença de tais
elementos que inauguram a vida como essenciais para
o seu crescimento. Nesse sentido é indispensável a pre-
sença da literatura em todos os espaços por onde circula
a infância. Todas as atividades que têm a literatura como
objeto central serão promovidas para fazer do País uma
sociedade leitora. O apoio de todos que assim compre-
endem a função literária, a proposição é indispensável.
Se é um projeto literário é também uma ação política por
sonhar um País mais digno (Queirós, 2011. Disponível em:
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