Literatura infantil: reflexões e provocações - page 2

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Simone Bibian
No século XVII, na França, Charles Perrault iniciou concre-
tamente a transformação dos contos maravilhosos em histórias
destinadas ao público infantil, com seu livro
Histórias do tempo
passado, com suas moralidades – Contos da Mamãe Gansa
(1697).
Eram narrativas folclóricas voltadas para o público adulto, mas
adaptadas para crianças com a intenção de incutir princípios morais.
Até então, não existia uma distinção clara da infância: assim
que possível, as crianças ingressavam na sociedade dos adultos
e aprendiam pela experiência e pelo convívio. Transformações
políticas, econômicas, sociais e religiosas alteraram os costumes e
surgiu a preocupação com o desenvolvimento psicológico e mo-
ral das crianças. O adulto a vê como um ser imperfeito e frágil.
A educação da infância tem por objetivos resguardar a inocência
e abolir a ignorância e a irracionalidade. Aí entra a literatura
infantil, como instrumento para moldar a criança – ser inocente,
dependente, incapaz e assexuado – a fim de torná-la um adulto
íntegro e dentro dos padrões de moralidade instituídos.
Mais tarde, os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm recolheram his-
tórias da sabedoria popular, com a missão de resgatar e promover
as tradições alemãs. As narrativas foram publicadas sob o título
Histórias das crianças e do lar
(1812-1822). Em 1835, Hans Chris-
tian Andersen não só adaptou narrativas orais como também criou
histórias para crianças. Ele é considerado o primeiro autor de
literatura infantil. Aliás, comemoramos no dia de seu nascimento,
2 de abril, o Dia Internacional do Livro Infantil.
No Brasil, os primeiros textos eram, principalmente, adapta-
ções de narrativas destinadas originalmente ao público adulto,
traduções e contos da tradição oral. Os livros escritos para crian-
ças tinham, ainda, intenção moralizante, difundindo preceitos e
normas de comportamento.
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