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Falando de Literatura... ou de Literatura Infantil?

Até bem pouco tempo, em nosso século, a Literatura Infantil era geralmente considerada pelo adulto um gênero secundário e algo pueril (nivelada ao brinquedo) ou útil (forma de entretenimento). Sua valorização como formadora de consciência no universo cultural das sociedades e como recurso para o crescimento emocional é bem recente.

Os dramas e as situações de perigo, tão comuns na Literatura Infantil, trabalham o aspecto psicológico da criança. Os psicanalistas Bruno Bettelheim, Diana Lithtenstein Corso e Mario Corso, entre outros, exploram abertamente essa questão, mostrando que amenizar as situações apresentadas na literatura não forma cidadãos capazes de interferir na organização de uma sociedade mais consciente e democrática.

Literatura e sua contribuição na formação dos leitores infantis

A leitura deve ser uma atividade permanente no dia a dia do trabalho com a infância menor.

Diferentes habilidades são afloradas por meio da literatura, entre elas a linguagem, contribuindo para a ampliação do vocabulário e incentivando a criatividade e a vivência do mundo do faz de conta.

Nessa fase, a linguagem é a habilidade que a crianças mais desenvolve, e a interlocução com o adulto favorece esse processo, principalmente quando mediado pela literatura, oferecendo contato com a linguagem escrita, já que linguagem cotidiana dá acesso à norma-padrão da língua.

Ler, contar e ouvir histórias são atividades pelas quais a criança pode conhecer diferentes formas de falar, viver, pensar e agir, além de um universo de valores, costumes e comportamentos de sua e de outras culturas situadas em tempos e espaços diversos do seu.

A Educação Infantil tem a responsabilidade de resgatar e organizar o repertório das histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes que frequentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas, contribuindo para a construção da subjetividade e da sensibilidade delas.

Ter acesso à boa literatura é dispor de informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura.

Leitura para a Infância Menor

Como a leitura é o caminho mais importante para chegar ao conhecimento, é necessário que a criança se familiarize com os livros desde o primeiro ano de vida.

Todo bebê nasce apto à fala, um processo natural do desenvolvimento humano, no entanto ninguém nasce leitor. Para que isso aconteça, é preciso incentivar o gosto pela leitura desde a creche.

Orientações para o trabalho com os livros

Faixa etária Textos Ilustrações Materiais
De 10 meses a 2 anos As histórias devem ser rápidas e curtas. Uma gravura em cada página, mostrando coisas simples e visualmente atrativas. Livros de pano, madeira e plástico. É recomendado o uso de fantoches e livro-fantoche.
De 2 a 3 anos História rápida com pouco texto e enredo simples, mas vivo, e poucos personagens. O tema deve se aproximar ao máximo da rotina da criança. Gravuras grandes e com poucos detalhes. Além dos citados para a faixa etária anterior, com destaque para os fantoches, a música também exerce grande fascínio na criança, por isso livros sonoros são muito atrativos nesta fase. O livro-vocabulário também é uma boa opção, já que contribui diretamente para o desenvolvimento do léxico e para a formação de algumas noções, como orientação espacial, tamanho e orientação temporal.
3 a 6 anos Os livros adequados a esta fase devem propor vivências radicadas no cotidiano familiar da criança por meio dos textos curtos. Predomínio de imagens. Livros com dobraduras simples. Outro recurso é a transformação do contador de histórias com roupas e objetos característicos. A criança acredita, realmente, que o contador de histórias se transformou no personagem ao colocar uma fantasia.

Dica

Estabeleça um horário na rotina da criança para ela realizar a atividade de leitura. Por exemplo, ler ou contar história após o recreio, após o lanche, antes da hora de dormir ou simplesmente no momento que parecer mais conveniente. O importante é ler constantemente, respeitando sempre o tempo-limite de cada criança.

Ler para a criança

A leitura diária para a criança é importante a fim de que seja estabelecido um hábito. No entanto, essa leitura deve ser feita espontânea e gradativamente.

A seguir, um quadro com referências de tempo de leitura por idade da criança. Cabe lembrar que, independentemente de qualquer coisa, a criança e seu interesse é que definirão o tempo de leitura.

Idade Tempo de leitura
Até 1 ano Poucos minutos
Até 2 anos 10 minutos
Até 3 anos 15 minutos
Até 4 anos 20 minutos
Até 5 anos 30 minutos
Até 6 anos* 30 minutos
* Crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE) ou que ainda não tenham o domínio da leitura.

Meios para tornar a leitura agradável e educativa

Para que a ação de ler seja espontânea e cause impacto positivo na criança, deve-se:

  • reconhecer o tempo de atenção da criança e não ir além dele;
  • procurar compreender o tipo de assunto que desperta a curiosidade na criança, para então escolher o material de leitura;
  • estimular a interação da criança com o livro perguntando sobre do que trata a história que será lida. Isso pode ser feito depois de você ler a resenha da história; em seguida, abra espaço para deduções introduzindo perguntas como “E agora o que vai acontecer?”, “Como será que vai acabar?”, “Como vocês gostariam que a história acabasse?”;
  • permitir que a criança “leia” com ou para você, quando já conhecer bem a história, apoiada na memória e nas ilustrações do livro;
  • promover oportunidades para o reconto da história.

Quando ler para a criança

A leitura pode ser introduzida na vida da criança de várias formas e em diversos momentos, desde que seja naturalmente, e não sugestão.

  • Ler, contar histórias, cantar, recitar poemas para a criança (desde recém-nascida), ao amamentar, dar mamadeira ou lanche.
  • Aproveitar todos os momentos tranquilos e de lazer para o aprendizado lúdico, seja quando passear em parques e jardins, seja no avião ou no carro.
  • Ler alguma história engraçada ou cantar uma música infantil (ritmos marcados e repetitivos) quando a criança estiver irrequieta, com medo ou nervosa, para acalmá-la.
  • Falar sobre a importância do silêncio para quem lê e para quem ouve.
  • Em visita ao médico, ao dentista, ou quando for tomar vacinas, ler para a criança ou com ela histórias que mostrem esses profissionais em ação.
  • Ler e discutir com a criança um filme ou uma peça teatral antes e depois de vê-los.
  • Ler as regras de jogos e brinquedos para a criança antes de começar a brincadeira procurando perceber o quanto ela entendeu.
  • Levar à criança à biblioteca, explicando antes o que é uma biblioteca, o que ela guarda e como encontrar o livro desejado.
  • Levar a criança frequentemente a livrarias, mostrar-lhe o ambiente e ajudá-la a escolher o livro. Há livrarias com espaço especial para crianças.

Dica

Quanto mais, melhor: sempre que possível leia para a criança.

Sugestões de atividades e objetivos

Atividades Objetivos

Ler histórias infantis.

Encenar peças infantis utilizando fantoches, dedoches, peças curtas com máscaras etc.

Organizar “sarauzinhos” (declamação de poemas infantis e parlendas).

  • Familiarizar a criança com os diferentes gêneros literários.
  • Estimular a capacidade delas de ouvir e compreender.
  • Desenvolver a capacidade de análise e síntese.
Cantar e dançar músicas infantis do folclore regional.
  • Estimular o desenvolvimento motor, fonador e rítmico.
  • Valorizar e se apropriar do folclore infantil da região.
Produzir desenhos relacionados à historinha ouvida e apresentar para o grupo.
  • Estimular o desenvolvimento motor.
  • Aprimorar a capacidade de síntese.

Estratégias de leitura

O que são estratégias de leitura? Qual é a importância delas na formação do leitor?

Desde cedo, ainda sem dominar o código verbal, as crianças são expostas a textos reais e usam estratégias de leitura que as ajudam a compreendê-los, buscando sentido, coerência. Por meio de um trabalho de dedução e inferência, a criança percebe as pistas que o próprio texto oferece. O papel da escola é o de ampliar e fortalecer o uso dessas estratégias para que elas não sejam abandonadas pelas crianças assim que dominarem o código verbal, uma vez que são ferramentas poderosas e fundamentais para encontrar o sentido no que se lê.

Como estratégias de leitura, temos:

  • a antecipação do conteúdo do texto, que pode ser feita pelo título (os títulos dos textos, além de anunciarem a temática, indicam o gênero textual), pela capa do livro, pelas ilustrações e outros textos de apoio;
  • a observação de pistas que o texto oferece para saber como ele será e o que mais ele vai dizer. As pistas podem estar nas ilustrações, nas cores usadas, nos tipos de letra, nos fatos e informações apresentadas;
  • as inferências, isto é, a capacidade de deduzir fatos ou situações que não estão expressas no texto, mas que podem ser deduzidas por meio de outros fatos já expressos no texto ou de pistas, assim como pelo conhecimento de mundo da criança.

Sabendo que a formação do leitor é um processo de longo prazo, é importante que, durante todo o ano, e de forma permanente, as estratégias de leitura sejam trabalhadas com as crianças para que possamos formar leitores.

Como contribuir para a formação do leitor?

A leitura de história e de bons textos deve fazer parte da rotina diária dos alunos.

  • Planejar a leitura – o texto deve ser bem escolhido e a leitura, estudada.
  • Repetir a leitura das mesmas histórias e deixar que completem os trechos.
  • Ler de diferentes formas cada texto.
  • Permitir interação durante ou após a leitura.
  • Pedir para reproduzirem a história lida.
  • Possibilitar o acesso a material de leitura significativo e interessante. Exemplo: comentar os livros que leu e achou interessante, e pedir aos alunos que também o façam.
  • Colocar o material de leitura ao alcance dos alunos.
  • Trabalhar com textos que possibilitem a memorização, organizar coletâneas com eles e incentivá-los a contar a história sem lê-la.
  • Levar embalagens vazias, folhetos, catálogo etc. para a sala de aula.
  • Criar situações em que a leitura seja necessária.
  • Ler e escrever com finalidades reais.

O papel da Literatura Infantil na fase inicial da escrita

Quando o assunto é aquisição da leitura e da escrita, as histórias podem oferecer muito mais do que o universo ficcional. Na verdade, elas desenvolvem aspectos importantes para a formação da criança no âmbito emocional, afetivo, social e cognitivo.

Ao ouvir histórias, a criança constrói seu conhecimento a respeito da linguagem escrita, que não se limita ao conhecimento das marcas gráficas que ele terá de produzir ou interpretar, mas envolve gênero, estrutura textual, funções, formas e recursos linguísticos. Ouvindo histórias, a criança sente a satisfação que elas provocam; aprende a estrutura delas e passa a ter consideração pela unidade e sequência do texto, assim como pelas estruturas linguísticas mais elaboradas, típicas da linguagem literária. Para tanto, o educador deve ter em mente certas considerações.

Ilustrações: Elisabeth Teixeira; Flávio Fargas; Alexandre Rampazo.